terça-feira, 27 de março de 2012

Entrevista - Albarus Andreos

O entrevistado da semana é ALBARUS ANDREOS, autor da trilogia A Fome de Íbus.

O Escritor:

Quando começou a escrever?
Ao escrever um conto para um colega de faculdade que jogava RPG. Fiquei tão encantado com o que tinha conseguido que não parei mais. Este conto, aliás, serviu de inspiração para minha primeira obra: A Fome de Íbus (cujo primeiro volume, Livro do Dentes-de-Sabre, foi publicado pela Giz Editorial em 2009).

Por que escreve?
Por diversão. Também por um sentimento meio sinistro parecido com "dever". É que parece que tenho necessidade, mais que prazer, em externar as situações que aparecem dentro da minha cabeça. Escrevo-as então numa(s) cadernetinha(s) preta(s), que mantenho sempre a mão (às vezes gravo no celular). Estas ideias são muitas vezes transpostas para meus textos (e há uma fila enorme delas!).

O que gostaria de alcançar com a sua Literatura?
Acho que a excelência, a admiração dos outros, a fama... Talvez um Jaguar com o IPVA pago na minha garagem rsrssss.... Brincadeira. Sub-repticiamente, pode-se dizer que é isso mesmo, mas na real, acho que o simples fato de produzir um texto, com começo meio e fim, já é o que quero. Mas não é só isso. Desejo uma perfeição estética que nunca alcanço, na verdade. Este desafio (inadequado) de escrever melhor a tal ponto que eu mesmo fique satisfeito com o que fiz me atormenta e me motiva, incansavelmente. Nunca, jamais (never), produzi algo que não precisei retocar. Isso nunca vai acontecer, uma palavrinha mais precisa, um artigo fora do lugar, uma vírgula que luta comigo se vai ou não existir... São sempre presentes. Mas muitas vezes pego um texto antigo, releio e acho que ficou bom. Isso me orgulha. Talvez esse prazer egocêntrico seja minha recompensa final da mesma forma que ler um texto antigo e achar coisas a serem mudadas é uma maldição.

Qual tema ou assunto que gostaria muito de abordar, mas ainda não sente a necessidade de fazê-lo agora?
Gostaria de escrever sobre a revolução de 1932. Minha mãe e meu pai tem relatos muito interessantes desta época. Nunca me senti à altura de fazê-lo. Quem sabe um dia.

O que o motiva?
Um compromisso com minha criatividade. Está no meu cerne desde menino. Era o que me diferenciava das outras crianças. Era o que atraia a admiração de meus pais, irmãos e amigos. Sempre foi o que me dava orgulho e foi o que mais desenvolvi em mim. Mesmo que essa admiração não seja mais tão calorosa atualmente (sim, meus filhos continuam alimentando meu ego), ser criativo me remete aos tempos em que isso era cotidiano. Escrever me liga a minha juventude então, à minha infância. É um modo de me manter jovem e sonhador.

Qual a sua maior inspiração?
Fantasia, pura, grossa, sem bolhas de ar e injetada direto na veia!

O que mais atrapalha?
Todo o resto. Ter de trabalhar para ganhar dinheiro, ter de dormir para levantar no dia seguinte, ter de dirigir, ter de sorrir, ter de comer, ter de brincar, ter de ser adulto. Tudo...

Qual seria o cenário perfeito para trabalhar na sua Literatura?
Acho que numa boa poltrona estofada, reclinável, com uma prancha ajustável para posicionar o notebook, num dia fresquinho, numa sala quieta, rodeado de livros, sem preocupações, com filmes (séries Roma, Crônicas de Gelo e Fogo etc.) e games (Medieval: Total War 2, Dragon Age, The Witcher 2 etc.) disponíveis para usar quando quiser. Um pouco de verde do outro lado da janela também ajuda.

O Leitor:

Qual o primeiro livro que leu e marcou a memória?
A Odisséia, de Homero, numa versão infantil que comprei pelo Clube do Livro, na década de 70. Também o Sítio, de Lobato (mas aí não lia os livros inteiros, mas apenas trechos, pois não sabia nem ler direito).

Qual a obra mais marcante?
Acho que o Velho Testamento (posso citar a Bíblia como obra literária?), pelo seu tom "verídico", pelos anjos com espadas flamejantes, pelos cabelos mágicos de Sansão, pelas batalhas, pelos hebreus atravessando o Mar Vermelho aberto como paredes de água, com todos aqueles egípcios fulos de raiva atrás deles, pelo moleque Davi que com uma pedrada destroça a testa do gigante guerreiro Golias... Tudo isso contado ao pé da cama, pela minha mãe, para eu dormir! Daí achava que se Sansão realmente existiu, Hércules também havia existido; se Golias havia existido, então havia gigantes; se havia Moisés, havia também Merlin etc.

Não vendo. Não troco. Não empresto.
Jonathan Strange & Mr. Norrel, de  Susanna Clarke. Simplesmente perfeito!

Qual o gênero e estilo literário favorito para leitura?
Fantasia, ao estilo Tolkien/ Cornwell/ Martin/ Rothfuss.

Onde, quando e como faz suas leituras?
Em qualquer lugar, na maior parte das vezes à noite, preferencialmente deitado na cama, ou numa boa poltrona, ou no banheiro (ops! Posso falar que leio livros no banheiro?)

O que muito gostaria de ler, mas ainda não encontrou oportunidade?
Olha... Gostaria de ler Guerra e Paz, de Tolstói, mas é muito caro e ainda não comprei. Gostaria de ler Proust e quase fiz isso, mas minha professora de literatura disse que não era tão premente assim (tenho comigo a ideia de que ler os clássicos é uma obrigação e Em Busca do Tempo Perdido era uma grande obrigação). Também ler Joyce (ainda vou ler Ulisses. Falta o timing certo, só isso.)

Qual livro recomendaria?
O Senhor dos Anéis (todos os três e não, não basta a série cinematográfica!).

O Autor:

Faça uma breve apresentação de sua obra mais recente.
Bem, publiquei um conto na antologia A Batalha dos Deuses (Novo Século, 2011), intitulado A Menina que Olhava. Nesse conto relato a influência maléfica sobre uma menina reprimida e solitária numa escola secundária, seu ódio pela professora e pelas outras crianças, de quem sente ciúmes. Ela se comunica com o mau, representado pelos antigos deuses egípcios (o Egito é a grande prostituta, do profeta João, na Bíblia, substituída por Roma em outras escrituras) e fala com uma entidade sombria que responde a suas ordens, por alguma razão, e ela constantemente semeia o seu amargor através deste ser. Vale a pena conferir!

Quais foram as inspirações para essa obra?
Mais ou menos é uma homenagem a minha irmã mais velha, professora aposentada.

Qual foi a parte mais legal de escrever?
Olha eu escrevo e reescrevo várias vezes, obsessivamente. Não posso, dizer qual parte (física) foi mais legal, mas talvez possa dizer que escrever pela primeira vez é bem legal. A cada reescrita fica mais distante a criação e me debruço cada vez mais na técnica, no aprimoramento, na obstinada caça a detalhes. Isso é que me faz escritor, na verdade. Temos aqui no Brasil, atualmente vários bons escritores de literatura fantástica, mas que não tem este rigor técnico, o que resulta em histórias fracas, mal escritas e com personagens chochos. A criação é sempre muito divertida, mas o legal mesmo é ver uma obra com conteúdo, no final.

Qual a parte mais trabalhosa?
Acho que já respondi na pergunta anterior. O mais trabalhoso é o refinamento do texto.

Enumere todos os livros que escreveu, inclusive em co-autorias, na ordem do mais recente ao mais antigo, e descreva brevemente o significado de cada obra para você.
Minha última obra foi como autor convidado na antologia A Batalha dos Deuses, capitaneada pelo escritor Juliano Sasseron, publicada pela Novo Século no finalzinho de 2011. Obra mais madura e mais literária que seus antecessores. Em 2009, publiquei a obra solo A Fome de Íbus - Livro do Dentes-de-Sabre, pela Giz Editorial. O romance, meu maior e mais orgulhoso filho, é parte de uma tetralogia cujos irmão ainda não foram publicados e, embora já prontos, esperam sua oportunidade de vir ao mundo. O início de tudo foi em setembro de 2007 com Anno Domini - Manuscritos Medievais, em co-autoria com uma pá de gente. Ali estavam nomes como Raphael Dracoon, Nazareth Fonseca e Helena Gomes (dentre umas quatro dezenas de outros incríveis escritores). Foi uma experiência arrebatadora, como todos os começos são: excitante, libertadora.

Destas obras que citou, qual a mais curtiu?
O Livro do Dentes-de-Sabre. Por ser o primeiro livro que escrevi (mas não o primeiro texto a ser publicado) e até hoje o cerne de minha criação fantástica. Não tenho outra obra melhor. Tenho livros guardados e gestando, mas A Fome de Íbus, como uma saga completa, é valioso para mim. Foi escrita e reescrita, como tudo mais que faço e, embora sendo o primeiro, incorporou melhorias durante os anos e anos de meu humilde aprendizado nas letras. Definitivamente, não é o primeiro livro de um autor principiante. Não resta nada daquele princípio. A saga toda é forte e boa, com qualidades literárias sem as quais não admitiria publicá-la. Tenho orgulho deste livro (e aí está o que um autor mais quer de recompensa ao escrever: ter orgulho de ter sido pai de um bom texto).

Qual foi mais trabalhosa?
Acho que o terceiro volume de A Fome de Íbus, intitulado Livro de Ferro (ainda inédito) por fechar muitos dos arcos abertos no primeiro livro. E, como parte do miolo de uma obra maior, agrega todo o arcabouço técnico de não permitir que o leitor se entregue a chatice de uma obra longa. Acho que me saí bem.

Qual superou as suas expectativas?
Todos eles. Vem exatamente do fato de se reescrever e reescrever e sempre se tornar melhor que antes. No final sempre há muita satisfação e até alguma surpresa porque não reflete mais a premissa inicial. Os livros tem disso, eles ganham vida própria e não permitem ser conduzidos docilmente por todos os lados. Acabam ganhando algumas lutas com o autor e isso é realmente surpreendente!

Qual reescreveria ou daria continuidade?
Qual reescreveria? Todos! Sempre faço isso.

Fale sobre os seus personagens favoritos e o que há nele para ser o dileto?
Gosto de Gelfor e Dorfhull. Gosto de Haskor acima dos outros e ultimamente tenho escrito um spin-off de A Fome de Íbus com Haskor, como personagem principal e Tellor, o mago, como um importante coadjuvante, dentre outros caras novos (mais isso ainda é surpresa!).

No que gostaria de transformar A Menina que Olhava, presente na antologia A Batalha dos Deuses?
Num sucesso! Em algo que me abrisse definitivamente as portas do mercado editorial.

Quais os seus contatos e onde poderíamos adquirir as suas obras?
Nas livrarias e grandes redes, fisicamente e pela internet: Livraria Cultura, Saraiva, Submarino, Lojas Americanas etc.).

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Santa Tranqueira Magazine