quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Entrevista – Simone Marques e o livro Paganus

 Depois de algum tempo, voltamos com uma nova entrevista e, diferente das demais, esta aqui aborda de forma mais íntima a autora e sua eminente obra... trata-se de um divertido batepapo por email que fiz, no finalzinho de Agosto, com a escritora Simone Marques, sobre o seu ótimo livro Paganus, lançado este ano pela Editora Modo ;)

1 - Há muito tempo, na Comunidade RTS do Orkut, li que a sua série Paganus se originou a partir de um sonho que você teve... gostaria de contar como foi isso?

É verdade! Pode parecer clichê, mas é isso mesmo...
Em fevereiro de 2007, eu havia me mudado para Recife, onde moraria por pelo menos 4 anos.
Numa noite de muitos sonhos, como são a maioria das noites para mim, rsrsrs, tive um sonho muito forte. Nele, eu era perseguida por alguns homens armados e entrei numa floresta de árvores altas. Corri até uma cabana onde havia um rapaz sentado à porta segurando um instrumento musical de cordas. Meus perseguidores estavam me alcançando e então eu parei, ergui meus braços e entoei um canto numa língua estranha, mas que eu sabia muito bem... rsrs.
Então... as notas da música começaram a tomar forma em volta de mim e marcas foram aparecendo nas minhas costas, eram vários símbolos que brilhavam. Algumas árvores em volta foram arrancadas e lançadas sobre meus perseguidores e os esmagaram...
Eu acordei com uma sensação urgente de que deveria escrever o sonho para não esquecê-lo. E foi isso que eu fiz. Conforme eu ia escrevendo toda uma história foi tomando forma na minha cabeça e fui pesquisar aqueles símbolos que apareceram. Descobri um deles e isso me surpreendeu. Era um símbolo usado pelos celtas, o Triskle, e que tinha uma profunda ligação com os elementos naturais. Deste momento em diante, eu senti toda a história crescer dentro de mim e em oito meses havia escrito toda a saga, que chamei de Paganus.

2 - Em seu íntimo, você acredita que esse sonho foi apenas uma forma que o seu inconsciente encontrou de manifestar sua criatividade? Ou poderia estar mesmo relacionado a uma memória ancestral?

Eu pensei muito nisso, sabe? Eu sempre tive sonhos muito detalhados, muitos cheios de aventuras e até tentei uma vez transcrever alguns, mas nunca havia tido toda essa força. Comecei a pensar em memória ancestral quando descobri algum tempo depois que meus ancestrais portugueses viviam numa região onde a cultura celta até hoje tem uma marca muito forte. Eu chego, sim, a pensar que foi um disparador que me conectou às minhas origens e que me levou a resgatar toda uma cultura e crença que estavam latentes dentro de mim.

3 - Antes do sonho, você tinha alguma forma de contato com a Cultura Celta, seja apenas através de mitos, lendas?

Isso que é mais interessante. Eu nunca havia tido contato com a cultura celta, não conhecia sua cultura, e sequer sabia que Rei Artur fazia parte das lendas celtas. Jamais havia pensado nos deuses celtas, em seus guerreiros, por simplesmente ignorar sua existência. De repente, me vi dentro de um universo riquíssimo em histórias, lendas e crenças. Essa descoberta foi definitivamente um marco em minha vida e pode parecer até exagerado, mas me libertou de amarras que durante toda a minha vida foram impostas pela educação religiosa que tive.

4 - Você acredita em Reencarnação e que, de alguma forma, esta história esteja relacionada ao seu próprio passado?

Na verdade, eu acredito que seja mais uma mensagem de meus ancestrais, para que eu resgatasse essa história que faz parte daquilo que sou também e que estivera tanto tempo escondida. Sinto que ela me leva para um futuro, por mais difícil que ele seja.

5 - A impressão que eu tive ao ler Paganus, é que há ali uma espécie de resgate de memória sobre uma época que, hoje, muitos fingem que não aconteceu, principalmente os que estão envolvidos com a religião dominante da época, seja em sacerdócio ou apenas como cultuador. Você acredita que isso poderia se tratar de uma Psicografia ou, melhor dizendo, uma Canalização (que é a Psicografia sem cunho religioso)?

A história está aí, quer as pessoas concordem com o que houve, quer não, quer tentem fingir que não aconteceu, quer não. São fatos. Não conheço psicografia ou canalização, o que sei são apenas conceitos vindos do senso comum sobre o tema. Eu acredito em inspiração, naquela luz que em determinado momento brilha em nossa mente e que nos leva por um caminho inesperado. Eu fico feliz em resgatar essa parte da história que ainda está muito presente no nosso cotidiano, mesmo que seja mascarada e use outros nomes.

6 - Você precisou fazer muitas pesquisas para dar base à sua criatividade? Se sim, como foi adentrar esse "novo mundo" da Cultura Celta e dessa parte obscura na História de Portugal?

Sem dúvida. Eu não conhecia nada sobre essa cultura e tive que ir buscar muitas informações. Mas foi um momento fantástico de descobertas! Algumas dizem respeito à própria História e como os celtas deixaram uma marca profunda na cultura, sociedade e religião, sem nem ao menos terem deixado algo escrito. Outra descoberta interessante foi perceber a influência dessa cultura no norte de Portugal e que há pequenas vilas por lá que ainda têm festivais celtas em seus calendários. E a descoberta que mais mexeu comigo, foi a de quê meus ancestrais que vieram de Portugal, eram dessa região, do norte. Muitas coisas pareceram se encaixar na minha própria história, o que foi libertador e um pouco assustador... rsrs!
Quanto à inquisição, todos sabemos como Portugal é um país muito cristianizado e como todos os locais onde o braço da inquisição alcançou, muitas vezes é preferível abafar, mas foi através de Portugal que a inquisição, mesmo enfraquecida e sem tanta autoridade, alcançou sua colônia, o Brasil, e eu me aproveitei disso para criar minha história ;)

7 - Imagino que um dos seus sonhos de consumo seja, então, participar de uma dessas festas celtas em Portugal... pois, não? rs

Ai! Nem!! Eu fiquei super encantada! Se tudo der certo, no ano que vem pretendo pisar em terras lusitanas! 

8 - Você gostaria de contar um pouco sobre as descobertas que fez sobre sua família, da sua ancestralidade portuguesa?

Na verdade, descobri de onde minha família partiu quando veio para o Brasil. Uma vila na região de Trás-os-Montes. Uma região ao norte e onde há festivais de inspiração celta, embora mascarados de festas religiosas cristãs. 

9 - Há elementos em Paganus que foram inspirados ou mesmo emprestados da história da sua família?

Não exatamente, mas imaginei como minha família saiu de uma pequena vila ao norte e foi para o porto, deixando para trás tudo o que tinham e conheciam, para chegar ao Brasil e lutar pela conquista de um espaço. 

10 - Você poderia sintetizar a sua obra Paganus?

Paganus é a história de mulheres celtas nascidas em Portugal no século XVII e que tem que enfrentar a perseguição da Igreja. Elas têm sua aldeia destruída e fogem por vilas e aldeias em busca de um lugar onde possam viver livremente. Neste caminho serão ajudadas por um jovem nobre cristão e a vida de todos eles sofrerá mudanças drásticas. Em meio a toda essa jornada, a mais jovem delas, Daniele, descobrirá que tem uma importante missão a cumprir e que a poderá levar para o outro lado do oceano.

11 - No livro não há um final definitivo, então poderia nos dizer o que nos espera para os próximos livros da série?

Nos próximos livros da série, o leitor encontrará os reflexos que a missão de Daniele terá sobre suas descendentes e aos poucos irá se descobrindo o que realmente a jovem portuguesa precisava realizar. O livro seguinte é novo na saga e se chama Beltane, ele conta a história de Daniele assim que chega ao Brasil num contexto onde estão escravos, índios, bandeirantes, e traz à leitora a mistura de crenças que se encontrava por aqui em um turbilhão nesta época. A saga então tem um salto e o terceiro livro da saga, Triskle, começa 300 anos depois da chegada de Daniele ao Brasil e trará o desafio da perseguição para os dias atuais. A história fica bastante realista e tensa, ao mesmo tempo em que os elementos místicos e sobrenaturais ganham corpo e as crenças celtas vão aparecendo em meio ao cotidiano de personagens brasileiros.

12 - Qual a sua opinião sobre o livro? Qual a principal mensagem que você quis passar?

Eu amo esse livro, rsrsrs.
A verdade é que ele me ajudou a resgatar minhas raízes celtas, que eu nem sabia existir quando comecei a escrever a saga. Ele me propiciou uma descoberta pessoal que acabou por fazer minha vida dar um giro muito grande e significativo.
Bem, embora eu não tenha pretendido passar nenhum mensagem específica, mas contar uma história que foi florescendo na minha cabeça, há algumas mensagens presentes que estão legadas à tolerância, à liberdade e ao papel das mulheres ao longo dos tempos, coisas que precisamos refletir e estar abertos para compreender. 

13 - Todo autor aprende algo com as histórias que conta e sempre há algum personagem que o marca de alguma forma. Qual a lição que você tirou de Paganus?

Como disse na questão anterior, o livro foi um marco muito grande e significativo para minha vida (e pensar que tudo nasceu daquele sonho que tive). Eu costumo dizer que eu criei Paganus, mas fui modificada por ele. 

14 - Qual a sua mensagem para os seus leitores e futuros-leitores?

Minha mensagem aos leitores é que se abram para a história e que ela possa lhes dar uma chance de se mostrar. Permitam-se experimentar uma história de autor nacional, deixando de lado os preconceitos. Acredito que irão se surpreender positivamente. 
Leiam com as portas e janelas da mente abertas e descubram esse universo que nasceu da minha mente e que espera alcançar vocês. ;)

Muito obrigada por sua boa vontade em conceder esse Batepapo-Entrevista ^^

Agradeço de coração a oportunidade de me mostrar e mostrar um pouco mais do meu trabalho! Esse apoio é muito importante para nós autores nacionais, que queremos que os leitores brasileiros descubram nossos livros.  
Beijo!!

@patkovacs

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